Marcas permanentes nos dentes de leite podem refletir exposição ao chumbo durante a gestação

A presença de metais pesados no sangue do cordão umbilical pode estar associada a alterações no desenvolvimento dos dentes ainda na primeira infância. Em artigo publicado no Journal of Trace Elements in Medicine and Biology, pesquisadores do Projeto Infância e Poluentes Ambientais, o PIPA/UFRJ, investigaram se níveis de arsênio, cádmio, chumbo, mercúrio, cálcio e vitamina D no cordão umbilical estavam relacionados a defeitos no esmalte dos incisivos decíduos — dentes de leite.
O trabalho, intitulado “Cord-blood levels of heavy metals, vitamin D and calcium and the occurrence of development defects of enamel in primary incisors: A birth cohort study”, avaliou 306 crianças da coorte do PIPA. Os pesquisadores analisaram amostras de sangue do cordão umbilical e realizaram exames clínicos odontológicos aos 12 e 24 meses de idade para detectar defeitos de desenvolvimento do esmalte. Devido à sua natureza não remodeladora, alterações no esmalte durante a sua formação ficam permanentemente registradas na superfície do dente. Esses defeitos podem ser do tipo hipoplasia ou hipomineralização. A hipoplasia do esmalte pode ser definida como uma quantidade deficiente de esmalte, podendo ocorrer na forma de depressões, sulcos ou áreas maiores de esmalte ausente. Já a hipomineralização está relacionada à qualidade do esmalte e geralmente se manifesta como alterações na translucidez ou opacidades do esmalte, podendo ser manchas brancas, creme, amarelas ou marrons (Seow, 1997).
O estudo encontrou uma associação entre níveis mais elevados de chumbo no cordão umbilical e defeitos de desenvolvimento do esmalte de incisivos decíduos das crianças da coorte. A pesquisa reforça a importância do acompanhamento nutricional e ambiental durante a gestação. Alterações no desenvolvimento do esmalte dentário não apenas representam um problema estético, mas podem indicar riscos maiores a desenvolver lesões de cárie e impactar a saúde bucal ao longo da vida. As autoras destacam ainda o papel da exposição intrauterina a contaminantes ambientais como fator de risco para alterações no desenvolvimento infantil.