As primeiras bactérias do bebê e sua relação com o comportamento infantil

O conjunto de microorganismos que habita o trato gastro-intestinal nos primeiros dias de vida pode ter um impacto significativo no desenvolvimento infantil, especialmente nas habilidades socioemocionais. Em artigo publicado na revista Nature – Scientific Reports, pesquisadores do Projeto Infância e Poluentes Ambientais, o PIPA/UFRJ, investigaram a relação entre a composição bacteriana do mecônio — as primeiras fezes do bebê — e o desenvolvimento comportamental aos seis meses de idade.
O trabalho, intitulado “Early-life gut microbiome is associated with behavioral disorders in the Rio birth cohort”, analisou amostras de mecônio de 36 recém-nascidos e avaliou suas habilidades socioemocionais por meio do Denver Developmental Screening Test II (DDST-II). A metodologia envolveu a caracterização desse microbioma intestinal por sequenciamento genético, permitindo a identificação das comunidades bacterianas presentes no início da vida.
Os resultados mostraram que bebês que apresentaram menor diversidade microbiana no mecônio tiveram mais dificuldades no desenvolvimento socioemocional aos seis meses. Especificamente, a baixa diversidade do microbioma foi associada a menores pontuações no domínio pessoal-social do teste de Denver, o que pode indicar maior risco de dificuldades de socialização e interação no futuro.
A pesquisa reforça a importância de estudos sobre a relação entre microbioma e neurodesenvolvimento, sugerindo que fatores que alteram a colonização inicial do intestino, como parto cesáreo e uso de antibióticos na gestação, podem ter impactos a longo prazo na saúde mental e comportamental das crianças.