Abrasco lança estudo detalhado sobre as consequências do uso dessas substâncias na saúde e no meio ambiente elaborado em parceria com pesquisadores do PIPA e de outras instituições.
Os impactos dos agrotóxicos na saúde reprodutiva no Brasil é o tema principal do relatório “Saúde Reprodutiva e a Nocividade dos Agrotóxicos” e de um almanaque ilustrado sobre o tema lançado nesta segunda-feira (29/4) pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). As publicações são resultado de uma ampla colaboração entre movimentos sociais, cientistas de diversas universidades, incluindo pesquisadoras do Projeto Infância e Poluentes Ambientais (PIPA/UFRJ), e uma parceria com o Centro de Direitos Reprodutivos de Bogotá.
De acordo com o último Anuário Estatístico publicado pela agência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil usa mais agrotóxicos em suas lavouras do que a China e os Estados Unidos juntos. Segundo o relatório, que usou dados de 2021, o país utilizou naquele ano 720 mil toneladas, o que representou 20% do total mundial. Uma quantidade significativamente maior do que a utilizada pelos Estados Unidos (460 mil toneladas) e pela Indonésia (280 mil toneladas). O Brasil apresentou o maior uso por área de cultivo, com 10,9 kg/ha, quase quatro vezes o valor dos Estados Unidos (2,9 kg/ha) e quase seis vezes o da China (1,9 kg/ha).
As publicações foram apresentadas ao público durante um seminário realizado na Escola Nacional de Saúde Pública, na Fiocruz, que discutiu os impactos deste cenário. Os resultados da pesquisa foram apresentados pela coordenadora do projeto e integrante do GT Saúde e Ambiente da Abrasco, Lia Giraldo, em uma discussão que pode ser vista no canal da Abrasco no Youtube. Para a pesquisadora, o trabalho foi uma forma de analisar o panorama nacional quanto ao arcabouço legal e as ações existentes nas políticas públicas para proteger indivíduos e grupos populacionais frente a toxicidade dos agrotóxicos na saúde reprodutiva, além de propor recomendações para mitigar seus impactos.
O relatório aborda de forma aprofundada os impactos dos agrotóxicos na saúde reprodutiva no Brasil, discutindo tópicos como a produção científica brasileira sobre os efeitos dos agrotóxicos, o marco legal e os processos de desregulamentação dos agrotóxicos, vigilância integrada e participativa, além de informações inter-setoriais sobre exposição aos agrotóxicos e danos à saúde reprodutiva. Destacam-se também os impactos da pulverização aérea de agrotóxicos, violações dos direitos humanos e estratégias para reparação integral. O documento apresenta uma análise crítica da situação atual, propondo recomendações para proteger a saúde das populações expostas, principalmente em termos de saúde reprodutiva, e inclui uma série de textos complementares e uma seção especial dedicada a desconstruir os mitos promovidos pelo agronegócio sobre a segurança dos agrotóxicos.
Já o almanaque ilustrado, desenvolvido em uma linguagem mais acessível, tem o objetivo de informar a população sobre os efeitos nocivos dos agrotóxicos na saúde reprodutiva e ambiental e fomentar um diálogo para conscientizar criticamente os leitores sobre o uso dessas substâncias. Composto por quatro lições principais, a publicação explora desde a estrutura e função do corpo humano até os impactos agudos e crônicos dos agrotóxicos na saúde, passando pelos efeitos na saúde reprodutiva e estratégias para um estilo de vida livre de venenos. O almanaque também confronta mitos propagados pela indústria agroquímica e enfatiza movimentos sociais que opõem-se ao modelo de produção dependente de químicos no Brasil. Ilustrações e narrativas complementam cada seção, ligando o conhecimento científico às questões sociais e ambientais, promovendo uma compreensão integrada e holística sobre os problemas associados aos agrotóxicos. O projeto contou com a participação das bolsistas de iniciação científica Maria Eduarda Burchardt, Débora Motta, Larissa França, Anna Carolina Gugliotti, Thaynara Bretas e Naíla Andrade, sob a supervisão de Carmen Froes Asmus, coordenadora geral do PIPA/UFRJ, e Lia Geraldo.
Confira o relatório aqui e baixe o almanaque aqui.