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Avaliação do consumo alimentar, segundo o grau de processamento dos alimentos, diversidade alimentar e fatores sociodemográficos associados, em gestantes brasileiras, moradoras do Rio de Janeiro.

A nutrição materna durante a gestação pode contribuir para o surgimento de doenças no período fetal e na idade adulta. Evidências relevantes indicam o impacto negativo do processamento de alimentos na saúde. No entanto, o consumo materno de alimentos ultraprocessados é pouco investigado. O objetivo do presente foi analisar o consumo alimentar de acordo com o grau de processamento dos alimentos, diversidade alimentar e fatores sociodemográficos associados durante a gestação.

Os dados foram coletados de uma coorte de nascimentos realizada no Rio de Janeiro, Brasil, composta por 142 gestantes. A dieta foi avaliada por meio de um questionário qualitativo de frequência alimentar. Os alimentos foram classificados de acordo com o sistema de classificação NOVA em dois grandes grupos: grupo dos alimentos não ultraprocessados, que contemplou os alimentos in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários processados ​​e alimentos processados, e o grupo dos alimentos ultraprocessados. Em seguida, os alimentos foram divididos em sete subgrupos: frutas e hortaliças; arroz e feijão; carne e ovos; peixe; salsichas e outros produtos cárneos reconstituídos; refeições rápidas; e refeições prontas embaladas. Os quatro primeiros grupos foram considerados não ultraprocessados e os demais subgrupos alimentos ultraprocessados. Foram calculados os escores destes grupos, refletindo a ingestão semanal de mais de um subgrupo. A diversidade dietética da fração de alimentos não ultraprocessados foi descrita de acordo com as diretrizes da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A associação entre consumo alimentar e fatores sociodemográficos foi investigada por meio de modelos de regressão logística.

As mulheres participantes do estudo tinham idade média de 28 anos, 76% autodeclararam-se não brancas, 38% informaram possuir renda per capita baixa e cerca de 68% completaram o ensino médio completo. Mais de 80% das gestantes relataram fazer consumo regular de todos os grupos de alimentos não ultraprocessados, exceto peixes, mais de 60% das gestantes relataram consumir pelo menos três grupos de alimentos ultraprocessados e apenas 25% apresentaram diversidade alimentar adequada.

O estudo mostrou que, mais de um terço das gestantes relatou consumo semanal de pelo menos dois subgrupos de alimentos ultraprocessados e um quarto dos indivíduos relatou ter uma dieta diversificada. Observou-se associação positiva entre escolaridade e consumo regular de alimentos não ultraprocessados (“carne com ovos”). As gestantes brancas relataram maior consumo de refeições prontas embaladas.

Os resultados também elucidaram a influência das características sociodemográficas na qualidade da dieta durante a gestação. Uma alimentação materna mais saudável deve ser incentivada, dada a janela de oportunidade para melhorar a qualidade da dieta durante a gravidez para os benefícios de longo prazo para as mães e seus filhos.